"O Evangelho..." segundo José Saramago
É compreensível o motivo de O evangelho segundo Jesus Cristo (1991), de José Saramago (1922-2010), ter causado tanta polêmica no mundo quando foi lançado; principalmente, em Portugal: o livro é uma bomba! É um produto não recomendado para os que se consideram "católicos, apostólicos, romanos".
Mais do que retratar a história da vida de Jesus de Nazaré de uma forma "humanizada", o livro apresenta uma versão do motivo que levou Deus enviar seu único filho à Terra para morrer por Ele. É aí, na minha opinião, que a coisa fica difícil para Saramago, fazendo com que o português dê adeus a terrinha e vá morar em território espanhol.
José Saramago era um ateu que não entendia como um Deus misericordioso permitia que tanto sofrimento acontecesse à humanidade. Esta foi a minha impressão sobre ele, quando assisti José e Pilar (2010), recentemente.
Minhas observações pessoais sobre o livro, se a história tivesse acontecido tal como nos foi apresentada por Saramago:
- José foi um pobre coitado que morreu injustamente e carregando uma culpa que não deveria ter tido. Ele não fez nada que qualquer outro pai mortal não teria feito igual se tivesse em seu lugar. A parte relacionada a ele, nos primeiros capítulos do livro, é muito triste e me tocou muito.
- Apesar do drama pessoal, nada justificaria a frieza com que Jesus tratou sua mãe e seus inocentes irmãos após a morte do pai. O relacionamento dele com Maria é quase resumido a isto: pouco caso pela precária existência da mãe.
- A relação dele com Maria Madalena tem uma conexão com a narrada em "O Código da Vinci", com a diferença de que Saramago não menciona a existência de nenhum herdeiro do "filho do Homem". Madalena tem uma forte influência sobre Jesus, a ponto de ter impedido que ele trouxesse à vida o seu irmão Lázaro. Também é uma história bonita de amor, respeito, paixão (ainda mais se lembrarmos que ela era uma prostituta e ele um garoto de pouco mais de 18 anos quando se conheceram).
- Deixando de lado a polêmica e as passagens tristes, o livro tem partes muito divertidas. Saramago conseguiu me fazer dar gargalhadas quando narrou algumas situações tão engraçadas daquele tempo e lugar: coisas que só o ser humano (e, em alguns casos, o ser animal, já que ele quase dá vida e pensamento aos bichos) consegue ser capaz de fazer.
José Saramago nasceu em 1922, em Ribantejo, Portugal, e faleceu em 2010, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Autor tardio em idade de mais de 26 títulos, foi Prêmio Nobel em 1998. Meu interesse por ele começou junto com meu interesse por Portugal, precisamente, por Lisboa.
O evangelho segundo Jesus Cristo foi lançado em 1991. Ele já estava na 44ª edição quando o li. Esse fenômeno de vendas, críticas e polêmicas poderia bem se chamar "O Evangelho segundo José Saramago". É um texto que desafia as convicções mais arraigadas e faz o leitor — religioso ou não — refletir, duvidar, questionar, consentir, aprovar, rejeitar, reler; sentir de tudo, menos a indiferença.
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