Na Londres de Sherlock: O Problema Final

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Fran Mateus nos cafés preferidos de Ernest Hemingway: Cova, em Milão; Iruña, em Pamplona; e La Closerie des Lilas, em Paris. |
Comecei este post comemorativo com uma frase de Ernest Hemingway — um dos melhores escritores de todos os tempos — porque ela define um pensamento dele que também considero como meu: o prazer da solidão que os grandes cafés nos propociona. Neles, podemos tomar um café bem quente e colocarmos nossa leitura em dia (no caso dele, escrever seus contos e romances), cercados de gente e sozinhos ao mesmo tempo. Um daqueles ambientes perfeitos!
Hemingway nasceu neste mesmo dia, 21 de julho, do ano de 1899. Logo, este é um post em homenagem à sua existência 🎂! Durante seus quase 62 anos de vida (ele faleceu em 2 de julho de 1961), esse escritor norte-americano nos brindou com literatura do mais alto nível, tornando-se famoso desde o lançamento do seu primeiro romance, O sol também se levanta (1926). Outros clássicos de sua autoria incluem Adeus às armas (1929), Por quem os sinos dobram (1940) e O velho e o mar (1952), obras que contribuiram para que ele ganhasse o Prêmio Pulitzer, em 1953, e o Nobel da Literatura, em 1954.
Pessoalmente, gosto muito tanto do estilo da escrita de Hemingway como da forma como ele movimenta os personagens de seus contos e romances pelos lugares por onde passam. Considerando que o escritor também foi um grande jornalista e viajante profissional, ele conseguiu fazer suas criações transitar pela Europa, África e América com muita autenticidade, contribuindo para nos fazer querer viajar ao lado deles. No meu caso, as visitas aos cafés imortalizados nos romances, nos contos e na autobiografia Paris é uma festa (publicada, postumamente, em 1964), sempre foram partes fascinantes das leituras.
Um dia, decidi realizar o meu sonho de conhecer aqueles cafés e rumei para a Europa — precisamente, para Milão, Paris e Pamplona.
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Pôster do filme de 1957 (crédito: Selznick International Pictures); interior e exterior do Café Cova (fotos: Fran Mateus). |
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Capa de "Paris é uma festa" (Bertrand); mesa do Lilas e estátua do Marechal Ney (Fran Mateus). Hemingway e a esposa Hadley, em Paris (crédito: desconhecido) |
"Aí ele me perguntou porque eu gostava do Lilas e lhe contei algumas histórias dos bons tempos. Scott se interessou e ficamos por ali batendo papo; eu apreciando o Lilas e ele tentando apreciar." (Ernest Hemingway)
Em sua autobiografia, Hemingway incluiu um capítulo inteiro dedicado ao Closerie des Lilas, comentando sobre suas idas ao café para se concentrar na sua escrita e sobre as conversas que teve com Francis Scott Fitzgerald — outro escritor norte-americano excepcional! — no balcão do bar da casa. Ele também menciona que, naquela época, o estabelecimento estava para ser vendido para alguém que desejava transformá-lo num ambiente para um público mais refinado (o que, na ocasião, o excluiria daquelas mesas). Isso, realmente, aconteceu. O Lilas se reinventou, passou a oferecer pratos estrelados e caros e a atrair uma clientela mais endinheirada. No entanto, até hoje, o seu grande 'garoto propaganda' continua sendo aquele jornalista e escritor desconhecido, que contava o dinheiro para pagar o aluguel, sustentar a família e tomar seus cafés e aperitivos nas mesas do Lilas que ficavam embaixo da estátua do Marechal Ney. Irônico, não?
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Capa de "O sol também se levanta" (Bertrand); cena de "E Agora Brilha o Sol" (Twentieth Century Fox); mesa no interior do Café Iruña e sua fachada (Fran Mateus). |
— Sim, e para começar, vamos ao Iruña. (Jack Barnes)
Confesso que estava ansiosa para conhecer o Café Iruña, localizado na parte histórica e central de Pamplona. Ao lado do quinteto de O sol também se levanta — Jack, Brett, Robert, Bill e Mike —, o 'café da praça' foi uma das grandes estrelas do primeiro romance de Hemingway. O escritor adorava o espaço e o frequentou em todas as vezes em que visitou Pamplona! Eu, claro, quis entender o que o local tinha de tão bom e fui vistá-lo.
"Tomamos café no Iruña, sentados em confortáveis cadeiras de vime, no frescor agradável da arcada que dava para a praça." (Jack Barnes)
Para começar, o prédio imponente do Iruña, com seu toldo gigante na fachada, chama a atenção de quem passa pela Plaza del Castillo, esteja essa pessoa procurando ou não por ele. Dentro do estabelecimento, o visitante é presenteado com um belo visual: teto alto e decorado com lustres de época, espelhos venezianos, colunas majestosas, mesas de madeira escura e mármore branco e, o mais importante, comida deliciosa. O visual majestoso não intimida o viajante, pois a vibe do Iruña é altamente inclusiva, deixando todos muito à vontade. Ali encontrei gente de todos os tipos, idades e partes da cidade, da Espanha e do mundo, com destaque para dois grandes grupos: os americanos (conterrâneos de Hemingway) e os peregrinos rumo a Santiago de Compostela.
Assim como os personagens do romance, adaptado para o cinema como E Agora Brilha o Sol (1957), depois de conhecer o Iruña, eu fiz do espaço a minha segunda casa na cidade (a primeira foi o hotel), de tantas vezes que estive por lá, fosse para tomar um café, para almoçar ou fosse para visitar El Rincón de Hemingway: um espaço dedicado à memória do escritor que nos recepciona com uma estátua em tamanho real do próprio. Minha conclusão foi de que este é, realmente, um daqueles cafés que os fãs de Hemingway ficarão muito felizes em visitarem. Eu saí de lá e de Pamplona com vontade de voltar!
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Capa do guia "Num Café com Hemingway" (Cinetour Publishing) |
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