Especial Fitzgerald: "Os belos e malditos" (1922)
Os belos e malditos: o segundo romance de Fitzgerald
Os belos e malditos, segundo romance de F. Scott Fitzgerald, foi publicado em 04 de março de 1922, pela Charles Scribner's Sons. Na época, o escritor tinha 25 anos de idade e já estava casado com Zelda Fitzgerald.
Nessa história, Fitzgerald retrata a vida de Anthony Patch, o único candidato à herança de uma grande fortuna a ser deixada pelo avô, e sua esposa, Gloria Gilbert, uma jovem de Kansas City, rica, mimada e belíssima. Ciente de que qualquer entendimento sobre o destino do casal passaria pela compreensão do perfil do avô de Anthony, o Sr. Adam J. Patch, Fitzgerald começa seu romance fazendo essa devida introdução:
No início de 1861, Adam J. Patch deixou a fazenda do pai, em Tarrytown, para alistar-se num regimento de cavalaria de Nova York. Voltou da guerra como major, investiu em Wall Street e conseguiu ganhar cerca de 75 milhões de dólares... Depois de um sério ataque de esclerose, tornou-se um reformador entre reformadores, desferindo um variado sortimento de uppercuts e golpes corporais contra a bebida, a literatura, o vício, a arte, as panaceias e os espetáculos teatrais aos domingos... De uma cadeira de braços no escritório de sua propriedade em Tarrytown, empreendeu contra o enorme inimigo, a iniquidade, uma campanha que durou 15 anos, durante a qual se revelou um monomaníaco, fanático, uma verdadeira praga e um chato intolerável.
Único neto de Adam J. Patch, o tímido Anthony Patch perdeu a mãe, Henrietta Lebrune, aos 5 anos de idade, e o pai, Adam Ulysses Patch, quando ele tinha 11 anos. Dos 14 aos 16 anos, ele viveu na Europa, acompanhado de um preceptor particular. Aos 20 anos, formou-se em Harvard e, depois disso, foi passar uma temporada em Roma, distraindo-se com a arquitetura, a pintura local e, gradualmente, tornando-se um rapaz socialmente agradável. Três anos se passaram quando ele precisou voltar para a América por causa do aparecimento de uma doença súbita em seu avó, que resistiu, apesar do susto.
Anthony decidiu ficar em Nova York, usando parte da renda anual herdada da mãe para se instalar num apartamento da 52nd Street, próximo da Quinta Avenida, em Manhattan. O avô não lhe ajudava financeiramente e insistia que ele devia procurar uma ocupação que lhe garantisse uma renda mensal. O rapaz queria ser escritor, mas não se motivava para sentar, inspirar-se e escrever. No entanto, como seria o único herdeiro da fortuna do avô, aquele rapaz moreno, alto e bonito era considerado um belo partido pelas famílias com filhas em idade de casar.
Anthony dividia seu tempo entre almoços, jantares e idas ao teatro e outros eventos sociais com os amigos mais próximos, Maury Noble e Richard "Dick" Caramel. Foi esse último que o apresentou a Gloria Gilbert, de quem era primo.
Gloria e seus pais estavam na cidade, hospedados no Plaza Hotel. Ciente de sua beleza avassaladora, a jovem passava seu tempo em festas, sempre acompanhada de rapazes, todos querendo ganhar a atenção exclusiva dela. Apesar de sofrer uma certa resistência inicial, foi Anthony quem a conquistou e com quem ela aceitou casar-se.
No primeiro ano de casados, Anthony, com 26 anos, e Gloria, com 23 anos, moravam no apartamento de solteiro dele, da 52nd Street, e queriam alugar uma casa no campo para fugirem do calor insuportável da cidade e, quem sabe, Anthony se inspirar para escrever alguma coisa e ganhar algum dinheiro. Os dois se mantinham com os rendimentos da herança materna dele, sonhando com o dia em que colocariam as mãos na fortuna do velho Patch e viajariam para a Europa.
O tempo passou, o vovô Adam Patch continuava vivo e o dinheiro de Anthony, cada dia mais escasso. No entanto, apesar das promessas diárias de que seriam mais econômicos e que ele iria trabalhar em alguma coisa, o casal continuava mantendo um estilo de vida dispendioso, regado de festas, eventos sociais e muita bebida, tanto na cidade como no campo; onde assumiram o aluguel de uma casa colonial em Marietta, carinhosamente, apelidada de "a casa cinzenta".
Com a falta de dinheiro crescente, a felicidade plena e inabalável do casal começava a escorrer pelo ralo. Eles mantinham a paixão que sentiam um pelo outro, mas os seus defeitos saltavam a olhos nus. Eles também continuavam recebendo os amigos festeiros e bebendo até perderem a consciência. Foi durante uma festa na sala da casa cinzenta, absurdamente barulhenta e com muita bebedeira, que o velho Adam chegou de visita à Marietta. E aquele homem — defensor da moral, dos bons costumes e da tolerância zero para o consumo de álcool — não gostou nada do que viu.
Para encurtar a história, Adam Patch deserdou seu único neto sem nem se dar ao trabalho, ainda em vida, de comunicá-lo dessa decisão. A única saída para Anthony e Gloria foi contratar um advogado que pudessem pagar e tentar anular o testamento. Porém, ações judiciais demoram muito para serem julgadas, dando tempo para o casal descobrir quem era e quem não era amigo e onde ficava o fundo do poço, no decorrer dos cinco anos seguintes à morte do velho Patch.
Os belos e malditos: comentários
Com este resumo curtíssimo, eu gostaria de te incentivar a ler este livro. Eu fiquei estupefata tanto com a forma como Fitzgerald conduziu a sua história, como com a conclusão que ele deu para ela. Confesso que a situação de Anthony e Gloria chegou num ponto tão desesperador, que eu não fazia ideia se algo pior ainda poderia acontecer antes do seu final, já que Fitzgerald nunca foi o tipo de escritor de contos de fada ou finais otimistas. Mas posso dizer que me surpreendi.
Quem está familiarizado com a biografia do escritor, ao ler Os belos e malditos, vai perceber que boa parte do que acontece com Anthony e Gloria foi inspirado em situações que Fitzgerald e Zelda também passaram, como festas, bebedeiras e gastos além do recomendado por qualquer consultor financeiro. Questões práticas à parte, essa história foi muito bem estruturada e escrita, e você, leitor, consegue fazer um mergulho na vida da sociedade novaiorquina daqueles anos de 1920, famosos por serem o auge da Era do Jazz.
No mesmo ano de sua publicação, Os belos e malditos recebeu uma adaptação para o cinema (ainda mudo), The Beautiful and Damned (1922). Esse filme foi dirigido por William A. Seiter e bem fiel ao romance.
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O texto original, The beauty and damned , está disponível para leitura no site Project Gutenberg.
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