Especial Fitzgerald: "Suave é a noite" (1934)
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Suave é a noite, quarto romance de F. Scott Fitzgerald, foi publicado em 1934 e adaptado para o cinema em 1962. |
Suave é a noite: o quarto romance de Fitzgerald
O quarto romance de F. Scott Fitzgerald, Suave é a noite, foi publicado em 12 de abril de 1934, pela Charles Scribner's Sons, quando o escritor tinha 37 anos de idade, e começa assim:
"Na deliciosa costa da Riviera Francesa, mais ou menos a meio caminho entre Marselha e a fronteira da Itália, ergue-se um hotel grande, soberbo, cor de rosa. Elegantes palmeiras refrescam o tom quente da fachada e, diante do edifício, estende-se uma pequena praia ensolarada. Ultimamente, tornou-se lugar de veraneio para pessoas importantes e em moda na sociedade... O hotel e sua praia, que parecia um tapete bronzeado e luminoso, formavam um todo."
Através da descrição daquele dia ensolarado e preguiçoso, em junho de 1925, numa cena à beira do mar da Riviera Francesa, o romance de Fitzgerald entra na história dos belos Dick e Nicole Diver.
Esse casal se conheceu, alguns anos antes, em Zurique, na Suíça, onde ele era médico na clínica que a tinha como paciente, tratando-se contra distúrbios mentais. A jovem se apaixonou pelo rapaz à primeira vista e ele, em suas próprias palavras, "estava meio apaixonado por ela". Apesar de dissuadido pelos médicos seniores, que o aconselharam a não misturar o papel de enfermeiro com o de marido, Dick conseguiu o aval da irmã mais velha de Nicole, Baby Warren, e casou-se com a jovem.
Depois disso, os Divers fizeram muitas viagens, tiveram dois filhos e se estabeleceram na Riviera Francesa, onde o ar era bom para a saúde de Nicole. A rotina deles consistia tanto do homem se dedicar à escrita de uma tese médica como do casal frequentar a praia e o bar de um hotel local, fazer amizade com os estrangeiros ingleses e americanos que se hospedavam ali e dar festas em sua bela casa.
Tudo estava correndo bem até o dia em que a atriz em ascensão, Rosemary Hoyt, chegou naquela praia e caiu de amores por Dick. A partir daquele momento, e mesmo depois do retorno da garota para Hollywood, a vida e relacionamento entre marido e esposa entrou, gradativamente, em declínio. Ele abandonou as ambições profissionais e entregou-se à bebida, ao passo que ela começou a olhar para a vida de uma outra forma, tornando-se cada dia mais independente — emocionalmente — do marido.
Suave é a noite: o cinema, o senso de lugar e os amigos
Suave é a noite (Tender is the Night, 1962) ganhou uma adaptação para o cinema dirigida por Henry King. Nos papeis principais, Jennifer Jones e Jason Robards deram vida ao casal Diver, Joan Fontaine a Baby Warren e Jill St. John a Rosemary Hoyt. As filmagens foram feitas em locações da Suíça, da França e da Itália.
Na França, um dos lugares que marcaram a vida dos Fitzgerald foi o Hotel du Cap, localizado em Cap D'Antibes e usado como inspiração para o hotel que abre Suave é a noite. A respeito dele, Fitzgerald escreveu no conto "Acompanhe o Sr. e a Sra. F ao quarto número...":
"O Hôtel du Cap, em Antibes, estava quase deserto. O calor do dia se prolongava nos blocos azuis e brancos da varanda, na qual aquecíamos nossas costas bronzeadas em grandes espreguiçadeiras de lona que nossos amigos haviam espalhado por ali, enquanto inventávamos novos coquetéis."
Curiosidades: Uma das atrações do Hotel du Cap é o seu restaurante, Zelda's, uma homenagem à esposa de Fitzgerald; e, quem apresentou esse hotel aos Fitzgeralds foram seus amigos Gerald e Sara Murphy, que o escritor também usou — além de si mesmo e Zelda — para criar o casal do livro.
Suave é a noite: comentários
Considerado o romance mais amargo e desesperançoso de Fitzgerald, Suave é a noite foi o último título dele publicado enquanto estava vivo. A história desse livro reflete, parcialmente, a sucessão de crises pelas quais o próprio escritor passou, depois de nove anos sem conseguir concluir um romance. Sobre isso, o filme O Mestre dos Gênios (2016) mostra que a ideia de Fitzgerald se inspirar na própria biografia para escrever um novo romance foi dada pelo seu amigo e editor, Max Perkins.
Entre a publicação de O grande Gatsby, em 1925, e Suave é a noite, em 1934, Fitzgerald viu suas economias serem dissipadas com viagens, festas, bebedeiras e, depois, com pagamentos para os hospitais onde sua esposa, Zelda, precisou para tratar suas crises nervosas. Durante esse período, o escritor teve dificuldades em dedicar-se à escrever uma longa história. Ele conseguiu publicar alguns contos, porém o dinheiro que recebia estava abaixo do necessário para pagar as despesas da família.
Quando Suave é a noite, finalmente, foi concluído e publicado, a recepção fria pelo público de então não ajudou Fitzgerald a sair da crise financeira em que se encontrava. Foram necessários a herança deixada pela mãe e um emprego em Hollywood para ele conseguir enxergar uma luz no fim do túnel. Agora, veja a ironia do destino em relação à isso. Um exemplar da primeira edição do livro rejeitado pelos leitores dos anos 1930, estava à venda no site Whitmore Rare Books por $2,250 (algo em torno de R$ 11.947,50, no dia da publicação deste post, 24/09, o mesmo do aniversário de Fitzgerald).
Da minha parte, Suave é a noite é o meu livro preferido de Fitzgerald. Quando o li, pela primeira vez, em 06/1996, eu não fazia ideia de quem o escritor se tratava e nem das crises que tinha enfrentado. Eu amei aquele senso de lugar e a sua escrita bonita e sofisticada, o que me motivou a conhecer os demais romances e contos dele. Depois de saber o que ele viveu antes de concluir esse trabalho, fiquei pensando no quão incrível era o talento natural daquele homem; realmente, um verdadeiro mestre com as palavras!
No final, o tempo tratou de dar o reconhecimento devido, elevando Suave é a noite ao patamar de obra-prima.
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O texto original, Tender is the night, está disponível para leitura no site Project Gutenberg Australia.
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