Woody Allen em Nova York: "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985)
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Cecília em três momentos: com o marido abusador; dançando com Tom e encantada por Gil (créditos: Orion Pictures). |
A Rosa Púrpura do Cairo: O filme
Durante a Grande Depressão, entre o final de 1929 e a década de 1930, as famílias americanas passaram por sérias dificuldades financeiras. Uma pequena parte desse drama foi retratado por Woody Allen no seu belo filme A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo, 1985).
Na história ambientada na Nova Jersey do ano de 1935, a garçonete Cecília (Mia Farrow) tenta fugir da sua triste realidade, que inclui o marido desempregado, mulherengo e beberrão, Monk (Danny Aiello), indo ao Jewel Theater, a única sala que restou na cidade. Ali, ela esquece do mundo exterior assistindo a produções hollywoodianas e sonhando com a vida de glamour mostrada nelas. Um dia, Tom Baxter (Jeff Daniels), personagem do filme A Rosa Púrpura do Cairo, o qual Cecília já havia visto várias vezes, atravessa a tela e a convida para saírem juntos e se divertirem no mundo dele.
Cecília, finalmente, viu seu sonho tornar-se realidade! Tom a apresenta aos seus amigos, a leva para conhecer a sua cobertura de luxo e se divertir nos clubes noturnos da Broadway e Times Square.
A fantástica situação, no entanto, causa problemas com a produção do filme e força o ator que interpreta Tom, Gil Shepherd, ir até Nova Jersey, para convencer o seu personagem à voltar para a tela e finalizar a história; e dessa forma, a manter a sua carreira como ator em Hollywood. Ambos — Tom e Gil — mostram-se encantados por Cecília que, da noite para o dia, se vê dividida entre as duas versões de um homem que considera maravilhoso: um, de carne e osso e parte do mundo real; o outro, romântico e parte de sua fantasia. Qual deles ela deveria escolher?
Quem assistiu ao filme, desejou muito um final feliz para a heróina da história. Para entender o seu desfecho, leia as palavras do próprio diretor, no livro Conversas com Woody Allen, de Eric Lax:
“A Cecília precisava decidir entre escolher a pessoa real e a fantasia, o que era um passo à frente para ela. Infelizmente, nós temos que escolher a realidade, mas no fim ela nos esmaga e decepciona".
Dolorido para Cecília e para o espectador, mas verdadeiro.
A Rosa Púrpura do Cairo: As locações
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Cecília deixa o Jewel Theater, em Nova Jersey (crédito: Orion Pictures), cujas cenas internas foram filmadas no Kent Theater, localizado no Brooklyn (foto: Fran Mateus). |
Num filme tão belo como A Rosa Púrpura do Cairo, os cenários e locações não poderiam ficar em segundo plano. Woody Allen explica:
“Maquiamos um quarteirão inteiro e construímos o lado de fora do cinema. Construímos todas as nossas fachadas naquele quarteirão. O interior era um cinema de verdade... Era o Kent Theater [no Brooklyn], que foi muito importante para mim na minha infância, porque era, como a gente sempre dizia, o último reduto.” (Conversas com Woody Allen).
Ou seja, aquele subúrbio pobre, visto na tela, nada mais era do que um quarteirão montado na Main Street da cidade de Piermont, para projetar a imagem industrial de Nova Jersey com sua única sala de cinema: o Jewel Theater. Essa estrutura teve que ser demolida quando as filmagens foram finalizadas.
As cenas feitas dentro do cinema foram rodadas no Kent Theater, uma das poucas salas de rua do Brooklyn que (ainda) permanecem abertas. Esse cinema data de 1939 e passou por algumas renovações, sendo transformado, recentemente, num pequeno triplex. Mesmo modernizado, a minha impressão, quando visitei o local, foi de que o Kent manteve os ares de cinema à moda antiga que tanto agradou Woody Allen na sua infância e adolescência quando vivia no bairro. Onde: 1170 Coney Island Avenue (metrô: Avenue H, da Linha Q).
Comentários finais
Woody Allen confessou ter sido influenciado por Amarcord (1973), de Federico Fellini, quando criou A Rosa Púrpura do Cairo:
“Quando eu estava fazendo A Rosa Púrpura do Cairo lembro de ter sido influenciado por Amarcord. Lembro da imagem de uma cidade com um cinema e personagens maiores do que a vida. Queria este tipo de sensação para o filme, nostálgica, melancólica.” (Conversas com Woody Allen)
Pessoalmente, eu vejo A Rosa Púrpura do Cairo como uma declaração de amor ao cinema feita por Woody Allen, e como um dos filmes mais sensíveis e belos já produzidos por ele! E acredito que, se você gosta de cinema, mas ainda não o assistiu, deveria fazer isso. É possível que você também se encante por essa pequena história, que se tornou um clássico da década de 1980.
📙✈As locações deste filme também fazem parte do meu guia de viagens Nova York de Woody Allen, disponível na Amazon.
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